BLACK-A-MOOR
A algum tempo, quando resolvi deixar a advocacia e estudar design de interiores, me deparei com uma série de termos técnicos e expressões das quais não fazia a menor ideia do que se tratavam.
Descobri então, guardadas as devidas diferenças, que não era apenas o direito que possuía tantas expressões a serem aprendidas! Não pensei duas vezes e separei um caderno para começar a registrar todos estes termos; procurava os significados em livros e sites e incluía, ainda, algumas imagens ilustrativas.
Assim fui formando um pequeno e modesto dicionário de decoração, o qual sempre recorro quando surge alguma dúvida. A partir de hoje vou começar a dividir com outros que, como eu, também são havidos por conhecer e estudar mais sobre a decoração de interiores e arquitetura.
E para iniciar, escolhi um termo que me deparei quando estava lendo o livro cativante de Maria Ignez Barbosa, “Histórias de Estilo e Décor”; entre um artigo e outro surgiu a palavra “black-a-moor”.
Pois bem, esta expressão representa uma arte tipicamente barroca do séc. XVII, em razão da riqueza de detalhes e ornatos presentes nas peças. Originalmente, caracterizava-se como uma estátua de um serviçal esculpida em madeira ebanizada, com ricas vestimentas em dourado e jóias; carregava acima da cabeça, geralmente ornada com turbante, uma pequena bandeja circular ou um candelabro para velas.
Dado ao requinte conferido a estas peças, foram amplamente utilizadas na corte do rei Luís XIV da França, que as importava de Veneza juntamente com os espelhos venezianos também apreciados pela aristocracia francesa.
As peças são frequentemente retratadas em pares, em diferentes tamanhos, algumas chegando a grandes estaturas para serem dispostas em ambos os lados da porta de entrada, como se “serviçais reais” recebessem os convidados na residência.
Andrea Brustolon foi um importante nome dentre os escultores italianos de black-a-moor, porém foi o alemão Balthasar Permoser quem esculpiu umas das peças mais representativas deste gênero, o Mohr mit Smaragdstufe, atualmente parte do acervo do museu alemão Grünes Gewölbe, detentor de umas das maiores coleções de peças e tesouros da Europa.
Em seus 63,8 centímetros de altura esculpidos em madeira laqueada, a peça ostenta pedras como rubis, safiras, topázios, granadas e esmeraldas incrustradas em ouro, formando a rica vestimenta da estátua. Para finalizar a magnitude da peça, carrega em uma bandeja esmeraldas colombianas ainda firmemente presas a uma rocha.
Ainda que algumas peças sejam hoje reproduzidas com materiais e acabamentos duvidosos, as peças originais, principalmente de coleções particulares e de museus, continuam sendo verdadeiras preciosidades das artes decorativas!